Na newsletter BRDD#06 deixei em suspenso a discussão sobre marcas no mundo Bani. Talvez, tenha sido um plot, um gancho de telenovela de um capítulo para outro, um teaser publicitário ou só mesmo uma opção para não deixar o BRDD#06 tão longo. Enfim, jamais revelarei.
Fato é, que agora discutirei o impacto do BANI na vida das marcas.
Um dos itens que mais me chama a atenção do mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) é a não-linearidade. Isso significa que é quase impossível identificar onde começa um movimento, quais são suas causas e onde ele terminará.
As ondas – macrotendências – são multifatoriais (tá certo, sempre foram) de um jeito incompreensível. Um movimento singular pode ser impulsionado por diversas plataformas e se transformar em uma mudança intensa. A questão é identificar a singularidade desse movimento. Como fazer isso? Será que é preciso fazer isso?
Sim, via de regra, a origem sempre nós dá indicações importantes sobre a tendência em si.
Agora, imagine que 80% dos dados gerados no mundo são não estruturados, isto é, não estão organizados e prontos para serem usados, precisam ser selecionados, filtrados e trabalhados para se tornarem compreensíveis. Ou seja, precisam de algum Big Data para traduzirem os dados em leituras possíveis.
A BRDD#06 mostrou que a quantidade de dados gerados no mundo aumentará exponencialmente nos próximos, obrigando organizações e empresas a se embrenharem nesse mar de incertezas. E as incertezas, em virtude da não-linearidade das ocorrências, são inúmeras.
As incertezas podem ser culturais, econômicas, sociais, políticas, climáticas (pensando no movimento macro).
Sobre incertezas políticas: movimentos de extrema direita têm corrido por toda a Europa, América do Norte e América do Sul, têm origens claras na Alemanha Nazista, na Itália Fascista e na Espanha de Franco, porém, a verdade é que esses movimentos históricos são ainda mais antigos e têm suas origens em lugares anteriores.
O que política tem a ver com branding?
Neste momento, talvez você esteja se perguntando: vai discutir política?
Sinto lhe dizer que todo estar no mundo é uma ação política e histórica, é uma forma de existir a partir de uma singularidade, de um jeito específico que requer direitos e deveres, que requer ações de afirmação, ou ações de contenção, como no caso do fascismo.
Marcas existem em mundos, em contextos, em sociedades, em culturas e em comunidades. Marcas existem em um mundo político e histórico. No mundo BANI nenhum sujeito ou objeto o habita de forma separada, tudo está interligado.
Quem de nós foi capaz de imaginar o surgimento de células neonazistas no Brasil? “Política prende grupo de jovens acusados de neonazismo em SC”. – o G1 tem uma matéria específica sobre essa investigação. Vale a leitura, em que pese o fato de que o título do artigo é bastante condescendente - qualifica como jovens e não como criminosos e sugere que são acusados e não, de fato, apoiadores.
A ciência social séria está olhando para esse movimento faz tempo. Se quiser maiores informações sugiro seguir o @eadbrasil (twitter) ou acessar seu site - Observatório de Extrema Direita.
No Mundo BANI a ansiedade – antecipação da angústia por fatos “alucinados” como acontecendo no aqui e agora (minha definição como psicanalista) – é provocada por diversos gatilhos, como as questões políticas, a incerteza econômica, a violência endêmica vivida em nossa sociedade entre outros fatores.
Marcas podem ser lugares simbólicos de segurança, contra as incertezas do mundo BANI.
Marcas como plataformas simbólicas de segurança
Muitas marcas têm se alinhado contra tais atitudes, absorvido causas em seus posicionamentos – Magazine Luiza abriu um processo seletivo apenas para pessoas pretas e foi processada por isso. Doritos Rainbow se manifesta continuamente a favor da diversidade. Boticário lançou, alguns anos atrás, um comercial de dia dos namorados com casais homoafetivos e foi extremamente atacada, com iniciativas de boicote (a marca vai muito bem, obrigado).
Na Copa de Qatar marcas como “Brewdog” se posicionam claramente contra os jogos e, principalmente, contra a atuação política da FIFA, que escolheu uma ditadura como espaço de um evento democrático.
Entidades da área, como o Clube de Criação, passaram por uma renovação em suas cadeiras de direção após episódios de racismo. A AMPRO tem mulheres pretas incríveis nos lugares de decisão (Clube de Criação e AMPRO são marcas também).
Nesse post incrível da “ANDA” (Agência Nacional de Direitos Animais - que também é uma marca) há uma relação com 42 marcas de cosméticos que não testam em animais (#ficaadica). O melhor de tudo é que são 42 marcas nacionais. Por fim, para apresentar mais uma marca com atuação política, vamos falar da Insecta Shoes – vegana e ecológica e, também, nacional.
A Insecta Shoes não é uma marca com comunicação política, com posicionamento a favor ou contra partidos ou candidatos, mas é uma marca que se posiciona escolhendo uma visão de mundo, um sistema de crenças que faz sentido para ela. Ou seja, tem uma atuação política.
Verdade é que poderia discutir o mundo BANI por mais umas 30 newsletters (não farei isso! Juro!), pois o assunto é extenso e dá pano para manga.
Alguns Pitacos Finais
Marcas, não se isentem. Assumam suas posições.
É possível assumir posições com leveza e de maneira estruturada estrategicamente.
Posições devem refletir as verdades da marca.
Não me venha com causewashing.